sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A morte no candomblé, como a vemos?

 Com tantas mortes ocorrendo resolvi refletir sobre o que o candomblé fala sobre a morte. O Candomblé não acredita que a morte é a finalização de uma vida, mas sim do ciclo aqui no Àiyé (Terra). Conforme o fundamento nas tradições africanas, após a morte física, o espírito é encaminhado ao ọ̀run (céu). Aqueles espíritos que não cumpriram seu destino é que estarão sujeitos à àtúnwa (reencarnação). Contrário ao ponto de vista de muitas tradições religiosas, que acreditam que este mundo é de dor e sofrimento, o candomblé consideram o Àiyé o melhor lugar para viver. Por esse motivo, a reencarnação de um ancestral (Òkú ọ̀run àgbagbà ou Ésà) é sempre festejada na celebração denominada de Yíya ọmọ (voltar a ser criança ou tornar a encarnar).

Além de toda a importância da reencarnação, o candomblé também prestam culto aos ancestrais por acreditar na força e proteção deles.

Porque dançamos no sentido anti-horario?

 PORQUE DANÇAMOS O XIRÊ NO SENTIDO ANTI-HORÁRIO?

Dançar é, ao mesmo tempo, viver, transcender o cotidiano, iniciar-se nos mistérios da vida, da morte e da fertilidade. A dança com o passar dos anos, enriqueceu-se de fórmulas, de construções que se tornaram passos tão numerosos quanto às palavras, encadeando-se traduzindo situações, estados de alma. Utilizando as palavras, depois as batidas de mãos e de pés como acompanhamento, a dança apoderou-se, em seguida, da música.
No candomblé as danças são realizadas com os participantes dispostos em forma circular, onde essas rotações são realizadas em sentido anti-horário para se repensar a ideia de volta aos princípios, uma forma de aproximação com a ancestralidade.
As cerimônias são caracterizadas por dois momentos, o Xirê, onde se canta para todos os orixás, no mínimo três cantigas acompanhadas pelas danças. Em uma grande roda, todos os integrantes dançam representando as características de cada orixá, imitando seus gestos. O segundo momento é caracterizado pela chegada dos orixás, os integrantes então são devidamente trajados e recebem suas ferramentas. A partir daí, o orixá que desenvolve a coreografia sagrada.
Essa dança ritualística do candomblé, acaba por corresponder uma forma de oração corporal, uma prece em movimento. Essa oração é expressada pela dança ritual, promovendo harmonia entre espírito, mente e corpo, como uma forma de canalização de energias transcendentes do mundo espiritual e externando-as na dimensão material.
Na dança consolida-se o fenômeno mediúnico no movimento. Fato que ocorre na dança ritualística, onde o médium comunica corporalmente seu estado de transe e deixa transparecer o outro espiritual que naquele momento apodera-se, mesmo que parcialmente, na sua mente. O médium libera a irradiação da energia pelo seu guia, o círculo feito durante a dança afasta tudo que se refere ao mundo exterior e concentra ali apenas o que é espiritual e divino, acontecendo então a união com o sagrado, o seu orixá.
Ao longo do transe, as entidades manifestadas nos médiuns executam movimentações e gestos que caracterizam símbolos arquetípicos das entidades que habitam seu corpo. Movimentos circulares ou em forma de cruz, movimentações feitas geralmente com as mãos para representar as flechas, espadas, lanças, espelhos, pentes, laços e etc, objetos pertencentes aos orixás.
Outro fator de suma importância nas danças ritualísticas, é a relação dos pés com o chão. Os pés descalços relembrando a dança dos negros e dos indígenas brasileiros, a relação com a terra dando a ideia de ancestralidade está presente quase sempre nessas danças. O corpo do médium a partir desse momento simboliza a memória e tradição da cultura umbandista.
A dança então, integra aspectos sociais, espirituais e cósmicos. Por conta disso utilizam-se de movimentos que expressam suas tradições, o contato como mundo espiritual e a alteração da consciência.
A prática da dança ritualística de forma ordenada e realizada com conhecimento acaba ocasionando uma condição de saúde mental, valorizando a imagem corporal dos indivíduos e colocando-os em uma condição de relacionamento saudável com ele próprio e com o coletivo.