domingo, 17 de agosto de 2014

Mãe Valda fala a respeito de Eduardo Campos e a religião de matriz Africana!

Líder destaca respeito de Campos às religiões de matriz africana
Da Redação

Recife – No dia do enterro do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos, morto em acidente aéreo esta semana em Santos, a sacerdotisa Valda Gonzaga, conhecida como Mãe Valda de Pirapama, uma das mais importantes líderes religiosas do Estado, disse à Afropress que os dois governos de Campos foram marcados por um clima de tolerância e respeito às religiões de matriz africana.
“Os religiosos da matriz africana perdem uma pessoa que olhava o homem, que nunca igualou religião e política, recebia a todos porque cada um tem sua particularidade, mas sem valorizar um ou outro. Foi um governo que avançou nessas questões”, afirmou.
Ela lembrou que, Campos, entre outras iniciativas de valorização da cultura negra pernambucana, introduziu, por meio da Secretaria de Igualdade Racial, o Curso de Teologia de Religião de Matriz Africana. “Nunca houve empecilhos nos encontros, nem retaliações. Os racismos institucionais que sabemos que existem, nunca partiram do governo diretamente", acrescentou.
Mãe Valda pertence ao Terreiro Ilé Asé Sango Ayrá Ibona, da Nação Ketu, da cidade do Cabo de Santo Agostinho, e esteve com Campos pela última vez durante a Feira Internacional do Livro de Pernambuco – a Fliporto 2013. Segundo ela, o sentimento dos pernambucanos, de um modo geral, é de orfandade pelo que Campos representava de esperanças para o Brasil.
O corpo do ex-governador está sendo velado no Palácio Campo das Princesas, em clima de grande comoção popular e será enterrado junto ao túmulo do avô Miguel Arraes, neste domingo às 17h, no Cemitério de Santo Amaro.
Confira a entrevista concedida à Afropress pela líder religiosa pernambucana.
Afropress – O que os religiosos de matriz africana e a cultura negra perdem com a morte de Campos?
Mãe Valda - Os religiosos da matriz africana perdem uma pessoa que olhava o homem, que nunca igualou religião e política, recebia a todos porque cada um tem sua particularidade, mas sem valorizar um ou outro.
Afropress – Como pernambucana, qual foi a sensação nesta semana que marcou a tragédia?
Mãe Valda - Como pernambucana a sensação foi de ter ficado orfã, sem esperança. O Recife parou, como se de repente cada um de nós tivesse perdido um ente querido. A nossa sensação é que estamos sem líder, sem alguém que possa olhar por Pernambuco, à deriva. Quem está aí na política não nos trás nada de novo, é só cada um por si.
Afropress – Na condição de sacerdotisa de uma religião de matriz africana, como foi a relação dos religiosos e da cultura negra com Campos quando governou Pernambuco?
Mãe Valda - Durante o governo de Eduardo Campos, com a Secretaria de Igualdade Racial, foi instituído o curso de Teologia de Religião de Matriz Africana, onde inclusive eu participei, onde foi possível vários sacerdotes entrarem numa Universidade (FUNESO e UNICAP) e inclusive terem sua carteira de estudante.
Segundo o Padre Clóvis, da UNICAP, o objetivo do curso é aperfeiçoar conhecimentos já existentes oferecendo uma base nos ensinamentos da História da África e do simbolismo religioso das religiões de matriz africana de uma forma mais sistematizada às normas acadêmicas. Esses ensinamentos normalmente são passados de geração em geração, dentro das famílias, e, com o curso ganharão um respaldo acadêmico.
Também nunca ouve empecilhos nos encontros, retaliações. Os racismos institucionais nunca partiram do governo diretamente. Infelizmente um governo precisa de grupo de pessoas e o líder não tem todo o conhecimento sobre tudo o que acontece. Mas foi um governo que avançou nestas questões.
Afropress – O que, na sua opinião, muda na sucessão presidencial com a morte de Campos?
Mãe Valda - Eu não imagino o que possa mudar com a morte dele, porque como bem se dizia "ai, dos vencidos". Assim, “Rei morto, Rei posto”.
Afropress – Faça as considerações que julgar pertinentes.
Mãe Valda - E por fim, sabemos que o Brasil que já não tem mais políticos que sejam admirados, olhamos para seus discursos onde por não ter projetos, histórias, onde por ter construído uma ponte, arrasta isto como se fosse um favor e não uma obrigação, onde para ganhar votos já abrem seus discursos agradecendo a Deus e lendo uma passagem da Bíblia. Não respeitam o Estado laico, não respeitam a diversidade, e como bem falou Eduardo Campos “fanatismo religioso é uma temeridade”.
Crédito da foto do velório: Pedro Ladeira/Folhapress