domingo, 24 de novembro de 2019

HIERARQUIA E PODER NUMA CASA DE CANDOMBLÉ



Ter poder, e ser de fato detentor de algum poder, são situações distintas em uma comunidade religiosa de Candomblé, isso no meu entendimento. A utilização do poder e da hierarquia numa Casa de Santo não está escrita em nenhum código explícito de conduta, nem mesmo está escrito de fato; a hierarquia e o poder existem pelo simples fato de ser assim e evitar o caos.
Porém, são a hierarquia e o poder bem aplicados que mantém o grupo unido em torno de um objectivo ou de alguém, um líder. Mesmo se pensarmos em um trabalho filantrópico, sem fins lucrativos, perceberemos a hierarquia por trás do projeto; há sempre um líder, um catalisador, alguém a quem se prestam contas; e numa Casa de Santo não seria diferente.
O que vejo de problemático neste modelo de hierarquia e poder concentrados em mãos pouco habilidosas para o trato com as pessoas, é o fato dessa hierarquia sacerdotal estar diretamente ligada ao status que os postos de zelador, ogan, ekedi dão a alguns dignatários sem preparo e sem cultura suficientes para exercer estas funções; que lidam direta e diariamente com pessoas, com emoções e sentimentos, com vidas. E, desta forma, o poder se torna um problema.
Para exercer corretamente o poder é necessário, além do “direito conquistado”, ter o reconhecimento e o respeito da comunidade. É necessário ser um líder nato, e não um mero ditador de normas e os grandes nomes de nossa religião nem sempre tiveram educação formal completa, mas tinham carisma e sensibilidade. Portanto, a educação a que me refiro nem sempre é a formal, pois educação vem de família e, como somos uma família pergunto:
– Como estamos então educando nossos filhos?
Deve-se ter bem claro em uma comunidade quem é o líder e quem são os liderados. Falo em líder e liderados, não senhores e escravos. Frequentemente se confunde hierarquia com satisfação dos desejos do elemento mais graduado, confundindo liderança com imposição do medo. O bom líder orienta, o mau líder se aproveita da fraqueza do outro para diversos fins.
Como disse antes, em nossa religião não há um código de conduta escrito e formal; cada zelador é livre para fazer ou desfazer o que bem entender da forma como bem entender em sua Casa. Logo, isso leva à formação de entendimentos particulares das noções de respeito à pessoa, e a hierarquia passa a só ter valor quando imposta de cima para baixo e de dentro para fora do grupo detentor do poder, sendo o restante do grupo relegado à condição de mantenedores do “status Real”.
Casos típicos de confusão e de má conduta ética são os zeladores que, não tendo cultura ou educação (inclusive formal), quando empossados no comando de uma Casa não hesitam em tratar as pessoas com total desprezo, principalmente os membros da sociedade civil de maior prestígio que lhes frequentam as Casas.
Educação talvez seja um bom começo.
Não é porque não há um código de conduta que direcione o comportamento dos graduados que estes podem dispor das vidas, desejos, anseios e liberdades alheios da forma como melhor lhes convier. Somos, no mínimo, pensantes e temos sim direito ao bom e respeitoso tratamento, pois hierarquia e poder não pressupõe opressão.
Pelos motivos acima, creio que o que constantemente leva uma Casa a perder seus filhos e ser reconhecida como um local não muito confiável é a falta de capacidade do seu quadro, do seu staff, que geralmente está mais envolvido em disputas internas e silenciosas pelo poder do que centrado no que realmente importa, que é a educação e crescimento dos membros da comunidade. E, nestas disputas, não se leva em conta a sobrevivência da própria Casa como instituição de amparo aos filhos; não se leva em conta nada, somente a obtenção do poder a qualquer custo ou a manutenção dele.
Como disse anteriormente, há também os que rejeitam o poder. Estes não contribuem em nada e se colocam à margem das disputas, mas também não se posicionam contrários a estas.
O objectivo deste texto é dizer que o poder deve ser utilizado para colaborar, para influenciar positivamente, para fazer crescer a comunidade e os filhos, portanto devemos, antes de nos entregar de corpo e alma, avaliar cuidadosamente que tipo de poder queremos exercer e a que tipo de poder estaremos sujeitos.
A busca constante da felicidade conduz à felicidade.
Não sei de quem é a frase, mas é bem interessante.
Tomege do Ogum

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

A importância do BORI, alimentar a cabeça (ORI)

O equilíbrio que te falta e as coisas que você não consegue conquistar, está na sua cabeça que não come!
Assim como o nosso corpo precisa do alimento material, o nosso espírito e a nossa cabeça precisa de alimento também!
Algumas pessoas associam isso a tomar obrigação de santo ou coisas relacionadas, mas saiba que alimentar a cabeça vai muito além disso! Alimentar a cabeça é um ato diário!
Nossa alma, nossa energia, nosso espírito, nosso corpo fala conosco todos os dias, nossa saúde física e mental estão diretamente ligadas, sempre, por isso eu repito, alimentar a cabeça vai muito além de tomar obrigação!
De nada adianta você passar farinha no corpo, tirar ebó, tomar bori, recolher dias e dias, fazer a mágica do saci.. se você não trabalhar a sua cabeça, as suas emoções, os seus atos!
O teu corpo dá sinais, a tua mente dá sinais, alimentar a cabeça é a chave de muita coisa em nossas vidas!
Quer respostas para as coisas que não dão certo em sua vida? Comece a observar o seu comportamento, a tua forma de pensar, pois as vezes você mesma(o) é o elemento que atrasa a sua vida e barra suas conquistas e realizações.
O pensamento tem um poder imenso em nossas vidas, mas para que seja positivo precisamos alimenta-lo diariamente, ninguém disse que será fácil, e te garanto, não será. Mas tente expandir suas ideias, filtrar sua energia e se observar!
Para quem é de santo, ter equilíbrio é obrigação!
Ninguém se inicia, frequenta uma casa ou se dedica ao sagrado para não prosperar, andar para a frente, muita gente se frustra com a nossa religião pois acham que obrigação é passe de mágica, resolução automática dos problemas. Não!
Seria fácil e sem prazer se assim fosse!
O bom da vida é justamente enfrentar todos os obstáculos de cabeça erguida, firme e objetiva, tendo a certeza que honramos plenamente a ancestralidade acima de nós!
Facilidade não honra Òrìsà!
Facilidade é para quem não sabe o que é entregar e confiar de olhos fechados nas forças da natureza, nossa ancestralidade, nosso santo, o sangue que corre em nossas veias!
Devemos equilíbrio ao nosso Orí, sem isso não teremos bençãos nenhuma, nem de Òrìsà e nem da vida.
Pense!

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

COMPREENDER A IMPERMANÊNCIA E AS MUDANÇAS DO CANDOMBLÉ

Compreender a impermanência é saber que tudo muda o tempo todo e que nada é permanente, nem mesmo nossas dores e as nossas feridas.
Geralmente ficamos muito triste quando as coisas mudam, mas esquecemos de perceber o lado positivo dessas mudanças.
A água do rio hoje, não será a mesma água do rio de amanhã, e ainda assim, será o mesmo rio. Talvez nesse mesmo rio, tenha amanhã, uma água mais pura e cristalina. E é graças a impermanência que tudo é possível. Graças a impermanência, existe um fluxo de vida que pode fluir por vários caminhos.
O que seríamos de nós se nosso sofrimento fosse eterno e permanente?
Quando pudermos perceber o milagre da impermanência, será mais fácil nos libertar de tristezas e sofrimentos. Estamos em constante luta com a nossa mente cheia de desejos e apegos, os quais nos causam dor, sofrimento e frustração.
Não é tão fácil mudar nossos padrões mentais e nossos hábitos. Estamos sempre repetindo os mesmos padrões que muitas vezes são destrutivos e nos causam muitos conflitos interiores, nos mantendo reféns de nós mesmos. No entanto, é preciso perceber o que nos mantêm prisioneiros desses hábitos e padrões, quais atitudes são as causas de nossos sofrimentos. Quando compreendemos que ao mudar nossas atitudes e pensamentos também eliminamos nossas dores, podemos enfim, viver de uma maneira mais saudável e equilibrada.
Tudo está em constante mutação. A impermanência faz parte de nossa condição humana. Podemos observar quantas mudanças ocorrem tanto em nossa vida como na vida de nossos familiares e amigos. E é através dessas mudanças, que podemos nos libertar de nossos apegos e medos, e desenvolver nossa aceitação.
Quando esquecemos da impermanência, não nutrimos nosso amor corretamente. Quando nos libertamos da prisão interna criada por nossos condicionamentos, preconceitos, apegos, aversões, culpas, limitações e hábitos, começamos a nos aceitar, a gostar de nós mesmos, e consequentemente, começamos a abrir nossos corações para aceitar os outros da maneira que são.
Considerando-se a impermanência de tudo, em um mundo em constantes alterações, o apego representa a ilusão para deter a marcha dos acontecimentos, impossibilitando o surgimento da realidade, muitas vezes, adiando um caminho mais feliz que "nos espera".
Sabemos que muitas mudanças ocorrem inesperadamente em nossa vida, algumas boas, outras difíceis de enfrentar e de aceitar. Porém são muitas dessas mudanças que nos trazem crescimento e maturidade.
Geralmente é através de muitos momentos difíceis que reconhecemos nossa força interior, nossa coragem. E quando reencontramos nossa coragem e confiança, superamos nossas dificuldades com muito mais facilidade.
Sugiro que olhe para sua vida nesse instante, e reflita:
Onde você nasceu? Ainda vive nesse local? Quem são as pessoas com quem você conviveu? Você ainda convive com elas? Em que casa você morou? Ainda vive na mesma casa? Quem são os amigos que fizeram parte da sua infância? São os mesmos amigos de hoje? E seus relacionamentos? Empregos? Projetos? Sonhos? Sempre foram os mesmos? Provavelmente as coisas estejam bem diferentes agora. E o quanto você melhorou com todas essas mudanças? O quanto você pôde aprender com elas? Se nada tivesse mudado você seria quem é hoje?
Quando compreendemos a impermanência, entendemos o valor de cada momento e tomamos consciência de que o momento presente é o mais importante de nossa vida. Só no aqui e agora é que podemos criar e realizar algo, só no presente é que podemos transformar nossas vidas, nossa história. Só o momento presente pode nos dar a verdadeira satisfação. Na maior parte do tempo estamos sempre esperando que no futuro algo melhor aconteça ou ficamos nos lembrando do passado, lamentando ou comparando com o nosso presente.
Precisamos aprender a viver o momento presente, pois se vivermos com foco no passado ou no futuro estaremos sempre ansiosos, frustrados, insatisfeitos e infelizes. Não é sábio se preparar para a vida sem vive-la plenamente.
Se nada é permanente e tudo está em constante mutação, é inútil carregarmos um passado que já mudou, que não existe mais, e também é em vão vivermos num futuro que não existe e que pode nunca existir do modo que imaginamos. Viver e estar no presente é a real oportunidade que temos de criar e recriar a nossa história.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

CUSTOMIZAÇÃO DA FÉ

CUSTOMIZAÇÃO DA FÉ
O grande fenômeno de hoje não é o esvaziamento das religiões, que vão bem, obrigado. o fenômeno atual, com qual eu vou dialogar é a Customização da fé.
O que significa isso? Muitas pessoas entram numa religião concordando com algumas coisas e outras não, como se a religião devesse se adequar ao individuo e não a coletividade. Ao invés do esvaziamento humano para o preenchimento da plenitude divina, há um esforço da minha subjetividade me preencher, dos meus desejos, da minha consciência.
o coletivo passa a não ser importante e sim o que EU ACHO ou o QUE EU GOSTO.
Como funciona? Se eu quero prosperidade, o Orixá também
quer. Se eu quero que o meu candidato vença, o Orixá está ao meu lado. Se eu quero que os meus inimigos pereçam, o orixá abençoa. O orixá QUER o que eu quero. O orixá NUNCA me contraria, nunca pensa diferente de mim, nunca realiza algo que eu não goste ou não concorde, o famoso O SANTO ENTENDE!.
Essa categoria de ORIXÁS mereceria o título de “amigo imaginário” , ou seja, ao invés de eu pensar no radicalmente outro, no radicalmente oposto a tudo que
existe, eu vou pensar no radicalmente eu, SÓ INTERESSA O QUE EU QUERO, como crianças mimadas que não conseguem dividir o pão.